A convivência não garante profundidade, assim como a presença constante não assegura abertura.
Muitos dos nossos vínculos são alimentados por afeto, mas estruturados por conveniência, rotina ou função.
E tudo isso é real — mas não é o mesmo que ser íntimo.
A intimidade não é medida pelo tempo nem pela frequência.
Ela se forma em momentos de permissão: quando algo verdadeiro é dito e o outro não foge.
Quando mostramos uma parte que guardamos do mundo — e ela não é ridicularizada, ignorada ou negada.
Essa experiência é rara.
E, por isso mesmo, preciosa.
Às vezes, não somos íntimos nem de quem dorme ao nosso lado. Não por desamor, mas porque nunca houve espaço emocional real para sermos inteiros ali. Outras vezes, nos abrimos — e percebemos que o outro não está disposto a entrar.
Não há culpados.
A intimidade não se força, nem se exige.
Ela ou se constrói, ou se respeita sua ausência.
Isso muda muita coisa. Tira o peso da frustração e abre a porta da aceitação.
Nem toda relação pode ou precisa ser profunda. Nem todo amor vira abrigo interno.
E isso não invalida o que foi vivido.
O que mais me ajuda é lembrar: a intimidade só é verdadeira quando é espontânea.
E quando ela não acontece, o melhor que podemos fazer é não dramatizar — mas observar.
E talvez, encontrar um recôndito onde nossa alma seja vista, sem precisar gritar por isso.