TEXTOS
ESSA TAL INTIMIDADE - PARTE 3
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Quando não acontece? Tudo bem!
Nem todo vínculo nasce para ser íntimo. Nem todo encontro precisa nos atravessar por dentro.
Há relações que florescem na superfície e ainda assim são legítimas. Há convivências sem mergulho, sem confissão, sem exposição, e que mesmo assim nos acompanham, nos sustentam, nos fazem bem.
Ao pensar sobre a intimidade, comecei achando que toda relação precisava ser intensa, emocionalmente densa, verdadeira até o osso.
Logo, deduzi que se não houvesse profundidade, havia omissão. Que se não houvesse entrega, havia distância.
Mas durante o processo da escrita (além da lembrança dos cansaços acumulados e das conversas sobre os primeiros textos) fui percebendo que a intimidade custa caro.
Ela exige presença emocional, escuta, confiança, disponibilidade, e uma certa coragem de sermos vistos. E ninguém consegue sustentar isso com todos.
E tudo bem.
Aceitar que nem todo afeto precisa ser íntimo foi, para mim, um alívio.
Não como desistência, mas como maturidade.
Comecei a perceber que há amizades que são abrigo e outras que são varanda. Que há pessoas com quem se compartilha o mundo interno, e outras com quem se divide só o café, a piada, a leveza da tarde.
E nada disso é menor.
Intimidade não pode ser exigida. Nem cobrada.
Ela ou se constrói, ou se aceita, na sua ausência.
Há ainda o tempo. E a energia.
Intimidade exige escuta real e, às vezes, estamos exaustos demais para escutar alguém de verdade. Ou estamos em fase de recolhimento, reconstrução, cura. E nos damos apenas em porções mais leves, mais seguras.
E tudo bem.
Não somos obrigados a ser íntimos o tempo todo. Nem com todo mundo. Nem mesmo com quem amamos.
A ideia de que toda relação importante precisa ser intensa o tempo todo é uma fantasia emocional. É idealização. É peso.
Às vezes, é mais saudável sustentar uma boa conversa superficial do que forçar um mergulho emocional em quem não está pronto. Ou em nós mesmos, quando também não estamos.
Com o tempo, fui encontrando conforto nos laços que simplesmente existem.
Sem explicação, sem cobrança, sem exigência de profundidade.
Há beleza também no simples.
Na amiga que sempre manda memes, mas nunca pergunta como estou, e tudo bem.
No colega com quem converso sobre séries, mas nunca sobre angústias, e tudo bem.
Na pessoa que amo, mas com quem nem sempre consigo ser íntimo... e mesmo assim, escolho ficar.
A vida não é feita só de profundidades.
Ela também precisa de leveza, de superfície, de pausas.
E algumas relações são isso: lugar de respirar entre os mergulhos.
E tudo bem.
Sobre o autor:
Max Barbosa
Adepto do frio na barriga. Amante das estrelas e da Lua. Fã de cachaça e receitas com manteiga - não margarina. Interessado na simplicidade perdida em meio a tantas explicações.
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